quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Hugo Pratt:1927/1995

Tal como prometi no post do dia 6, aqui estou a homenagear aquele que terá sido o autor de banda desenhada mais premiado e sobretudo o mais apreciado entre os amantes da BD.
Hugo Pratt criou um personagem lendário - Corto Maltese, marinheiro errante e sonhador dos princípios do séc. XX e cujas aventuras começaram a ser publicadas em Portugal em 1981 na revista “Tintin” (em fascículos, que jazem algures no meu sótão). O seu traço era diferente, fugia aos cânones do desenho em voga na BD, razão porque os leitores e assinantes da Tintin de então se dividiram muito na aceitação daquelas sedutoras vinhetas. Por pouco tempo...Claro que o Corto me enchia as medidas, quer pelo personagem em si, quer pela forma sedutora, mas profundamente realista, como o autor traçava os personagens e o mundo que os envolvia.
Hugo Pratt faleceu na sua casa da Suíça, com vista para o lago Léman. O serviço religioso foi acompanhado por temas de jazz do seu amigo Dizzy Gillespie e o padre leu passagens do livro “O desejo de ser inútil”. Faz hoje 13 anos.
Hugo Pratt visitou várias vezes Portugal, uma das quais nos negros anos 50 e gostava muito do nosso cantinho; se calhar, pelas razões que o poema abaixo tão bem exprime.

- Nota final: Textos e imagens sobre Hugo Pratt e Corto Maltese é coisa que não falta na web, por exemplo AQUI. Viagem até lá, porque o sonho

…é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

- António Gedeão, Movimento Perpétuo, 1956

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