terça-feira, 31 de março de 2009

Há que chamar os bois pelos nomes


- Poema de J. C. Ary dos Santos\Resumo\Edição do autor\ Distribuição Livraria Quadrante\1972.
[comprado em Coimbra na Unitas - Cooperativa Académica de Consumo, em 2/6/1972]

segunda-feira, 30 de março de 2009

O aniversário e a arte tumular

O fim de semana foi vivido num frenesim. Vai sendo um hábito que me dá muito gozo e se o corpo é que paga não faltam créditos a recuperá-lo. O pior é que desta vez a alma levou um rombo que vai custar a tapar: há sítios no espaço e no tempo capazes daquilo que as balas e as minas não foram capazes. E assim se vai indo o guerreiro que alguém diz que sou.


arte tumular

[clicar na imagem para ver + fotos]
[clicar AQUI para ver em VÍDEO com Requiem de Mozart]

Neste calor que a internet irradia custa menos lembrar gente de quem se gostou muito e é só por isso que daqui vai um abraço para o amigo e colega de escritório, Dr. Alípio da Assunção Sol.
Mais uns dias e concretizaria o sonho de conquistar definitivamente o direito à toga. Mais uns dois anos e, finalmente, a concretização doutro sonho: subir as escadarias do novo Tribunal Multiportas de Oliveira do Bairro de toga debaixo do braço.
Nestes anos de presidente da assembleia-geral do clube de adopção, a manhã dum dos dias das festividades vem sendo dedicada a uma romagem aos cemitérios do município onde repousam atletas e dirigentes do clube.
Parece fácil, mas desta vez nem a cor me defendeu no cemitério de Vila Verde, ali onde nos esperava um velho pai que viu morrer o filho. A vida carrega mortes que se alapam às mãos mais do que à alma.
A propósito dos pais que perdemos e a poesia que nasce, aqui vos deixo esta
Carta Aberta

Um homem progride, blindado e hirsuto
como um porco-espinho.
É o poeta no seu reduto
abrindo caminho.
Abrindo caminho com passos serenos
e clava na mão,
que as noites são grandes e os dias pequenos
nesta criação.
Esmagando as boninas, os cravos e os lírios,
cortando as carótidas às aves canoras.
Chegaram as horas
de acender os lírios,
de velar as ninfas no estreito caixão,
de enterrar as frases e as vozes incautas,
de oferecer a Lua para os astronautas
e as rosas fragrantes à destilação.
_
- Poema de António Gedeão [Linhas de Força\Carta aberta. Edição do Autor\1967].
- Sobre a ARTE TUMULAR em Portugal, ir ao excelente site de Ana Margarida Portela e Francisco Queiroz, neste link directo ao tema.

sexta-feira, 27 de março de 2009

AINDA ESTOU VIVO


Já perdi o medo

A morte já não me assusta
Chegará no seu dia
Hoje levanto-me mais cedo
Madrugar nada me custa.
*
Ontem, Carlos,
os teus Amigos,
voltaram a lembrar-te!

Como num poema teu,
mais uma vez
,
chamámos-te à vida,
quando tu, desiludido,
preferias morrer.


Por isso nos rimos da morte enquanto estamos vivos.

_
O 1º quinteto e a última estrofe foram extraídos de Ainda estou vivo, poema escrito pelo Carlos em 29.1.2004, 8 meses antes de se ir embora (27.9.2004).
O poema que chamei à vida, Acaso não somos Amigos?, foi escrito no Chioco (Moçambique) em 1971.
[CARLOS LUZIO - O PESCADOR DE SONHOS\ Edição dos Amigos\ 2005]

terça-feira, 24 de março de 2009

Devagar se vai ao citius

O CITIUS (do latim, mais rápido, mais célere) é uma plataforma que se encontra disponível na internet para uso dos diversos operadores judiciais: advogados, magistrados (CITIUS - Magistrados Judiciais) e funcionários judiciais (Habilus).
Esta nova ferramenta informática veio substituir o anterior Habilus.net e representa uma fase mais avançada da chamada desmaterialização dos processos nos tribunais judiciais. Em vez do uso do papel e do correio electrónico (1) os advogados passaram a beneficiar das seguintes funcionalidades do Citius:
- proceder à entrega electrónica das peças processuais (petições, contestações, requerimentos avulsos, apresentação de meios de prova, etc.) e seus documentos acompanhantes, bem como dos requerimentos de execução e de injunção;
- consultar os processos e as injunções, bem como a sua distribuição e andamento;
- consultar numa agenda electrónica as diligências que lhes foram marcadas nos vários processos em que intervêm;
- consultarem as notas de honorários a que têm direito.
A página do Citius contém ainda ligações úteis, como sejam os endereços dos tribunais e um calendário judicial com indicação das férias judiciais e feriados nacionais e municipais.
Para quem domina bem o uso dos computadores e os seus meandros, o CITIUS é uma verdadeira mina de ouro.
Como é dos usos e costumes, a página contém ainda os indispensáveis links destinados aos menos conhecedores dos segredos da net, com respostas às perguntas mais frequentes e ainda a costumeira barra de ajuda, o que tudo abre em separador próprio e sem dificuldade que se veja.
Não sobram razões de crítica em relação a muitas medidas tomadas pelo Sócrates [o meu padrinho, como tenho lembrado em tantos posts], sobretudo porque se mostram inócuas e/ou de aplicação enviesada.
Mas na área da Justiça [como na da Saúde, embora com a discordância de muita da classe ou casta, como queiram] este governo tem reformado como nenhum outro fez. Com duas excepções:
1ª - a diarreia legislativa, que não mostra sinais de abrandar e revela que o legislador pouco sabe da poda: são os boys, as girls, o aparelho - o raio do aparelho (2) e os engomadinhos ou pézinhos-moles que citei no post do passado dia 18 - apetece-me mais Shakespeare;
2ª - o limite de 3Mb de capacidade nas entregas electrónicas. Sobre este tema, já tinha alertado o meu padrinho, que confunde Mb com MB. Ainda há 2 dias me confrontei com a idiotice: bastam meia dúzia de anexos em formato pdf e lá temos de ir ou remeter para o tribunal em suporte de papel os documentos que deviam acompanhar o articulado.
Então não há outros formatos seguros? Só conhecem o pdf? Ou alguém teve comissão na escolha, como há muito acontece ou aconteceu com o hardware e o próprio software? E não dá para aumentar até aos 5Mb, pelo menos?

Adoro o CITIUS e todo o meu trabalho passa por lá. E só encaixo as críticas de quem continua a sobreviver a leste do paraíso que é a internet. As demais, não passam de interesses corporativos, próprios de quem não quer prestar contas ao Povo que lhes paga e exige eficiência, destreza e empenhamento pela coisa pública (a res publica das citações ocas).
Sim! Tal como disse em Oliveira do Bairro uma jovem, competente e trabalhadora Juíza na sua tomada de posse: A JUSTIÇA É DO POVO E PARA O POVO!!
E mais não digo, que se faz tarde.
_
1) Antes da actual plataforma era facultativo o envio de peças processuais através do correio electrónico desde que o advogado tivesse certificado digital fornecido pela Ordem dos Advogados. Foi o que sempre fiz durante os anos em que vigorou esse regime.
2) Quando era rapaz novo quiseram impingir-me uma placa no sítio de alguns dentes em falta; resultado: passei a odiar o aparelho.
- ABAIXO O APARELHO!
- VIVA A DENTADURA DO PROLETARIADO!
*
O Citius tem linhas telefónicas, de fax e email, para apoio aos menos avisados.
* Links sobre o Citius: http://www.tribunaisnet.mj.pt/ e portal do governo, este em PDF [toma que já almoçaste!]

Educação e Cidadania à porta de casa

Junho está por anunciar (não sei onde pára o Borda d'Água) e apesar de há muitos anos estar arredado das provas de vinhos, eis-me a retomar os sábados em cheio. Valha-nos isso.
1. Já tinha assistido a uma conferência sobre vitivinicultura no vizinho IEC (Instituto de Educação e Cidadania), implantado bem no centro da Mamarrosa, logo ali depois do Portinho onde continuo a ir partir pedra, às vezes na companhia do Milton Costa.
2. E se bem me lembro, o Milton acompanhou-me nessa conferência sobre a celebração dos néctares bairradinos/colheita de 2008. Ou talvez esteja enganado, que desconfio de andar com algum curto-circuito de efeitos retardados na minha complicada teia de neurónios; hei-de perguntar-lhe, que ele sabe da poda.
3. No penúltimo sábado foi a minha vez de o acompanhar no regresso ao IEC, desta vez para lhe escutar a aula sobre a origem da vida, inserida no ciclo de conferências sobre vida, saúde e ciência que o sublime IEC em boa hora vem promovendo.
4. Neste sábado passado e como o MC estava de afazeres do lar, levei outra companhia dos tempos dos bailaricos nas casas das nossas mães de Bustos. E se escasso foi o tempo para aprender sobre a reprodução da vida, tempo de sobra tive para conhecer um talento local.
Ainda estou para perceber como uma mamarrosense como a Maria da Graça Capela da Graça me pode ter escapado entre os dedos das raízes que me agarram ao nosso chão; até laços de afinidade nos ligam, quanto mais outros gostos e sabores.
Eu explico em três penadas:5. Na cave do IEC estava patente uma exposição permanente sobre Pintura em Porcelana/”Travessas Companhia das Índias”. Um mimo em rigor, pormenor e saber de mãos, coisa de encher o olho e emagrecer a carteira. Tem graça porque a Maria da Graça da Graça tem uma fixação pelas loiças da Companhia das Índias, esses preciosos vasos da nossa Dinastia Ming.
Escusam é de procurá-los na feira do Sobreiro aos dias 9 e 22 de cada mês…é melhor ir direitinhos à Mamarrosa e perguntar por uma senhora muito excêntrica e assumidamente mal ataviada e verão que logo vos apontam a casa.
Maria da Graça Capela, nascida e residida na Mamarrosa, é mulher para ter menos um ano do que eu, mais dia menos dia. É reformada da FAO/UN, onde labutou desde os anos 80 a partir da Itália; cabia-lhe organizar as conferências que a FAO fazia um pouco por todo o mundo e veio a ser a 1ª mulher a integrar os serviços de segurança da organização, então chefiados pelo general italiano Borlando.
6. A Maria da Graça pode ser uma excêntrica, mas também é das que sabe da poda: iniciou o seu gosto pela pintura no Olimpo dos Deuses Pintores que é a Itália, tendo iniciado os seus estudos em Roma com a prof.ª Alessandra Anhesi. Estudou na Bottega dell’arte sob a direcção da prof.ª Teresa Broglia, especialista em registos e detém um diploma da International School of H. Ceram.
De 92 a 94 frequentou a Escola Superior de Belas de Tirana onde foi orientada pelo famoso escultor e pintor Hekter Dules.
Regressada à terra-mãe, foi Mestra d’Artes na União Portuguesa de Arte em Porcelana (UPAP) e de que foi vice-Presidente, na Fábrica Campos de Aveiro, na Galeria Oficina Regina Affonso, em Oliveira de Azeméis e em Lisboa.
A Maria da Graça detesta a ribalta, pediu-me sigilo e discrição, mas deve ter percebido que eu sou de assobiar para o lado.7. Ah, já me esquecia de como se chega àqueles primores:
a) materiais usados: porcelana cozida em tons acinzentados, difícil de encontrar, pigmentos cerâmicos, esmalte, ouromate e óleos;
b) objectivo: reproduzir tão fielmente quanto possível a porcelana Companhia das Índias.
8. A Graça também restaura arte sacra e faz registos, uma arte muito elaborada e por isso conventual, que se revela em tecidos, ferros, caixas de vidro, em geral de conteúdo religioso.
9. E protege ferozmente os animais. Ad nauseam.
*
Palavras do Senhor
oscardebustos

domingo, 22 de março de 2009

MUNDOS (IM)PERFEITOS

Pequeno cartaz de divulgação da Exposição Colectiva de Fotografia, em curso na vizinha Palhaça.
Descritores
- Título: MUNDOS PERFEITOS - Exposição colectiva de fotografia
- Local: Associação Desportiva e Recreativa da Palhaça (ADREP)
- Período: de 22 de Março a 5 de Abril de 2009
- Dia/hora: de sexta a domingo, das 10H00 às 21H00; restantes dias, sob marcação - 939324235
- Organização: Dilsa Dias (V.N. de Gaia) e Diana Cura (ADREP/Palhaça)
- Fotógrafos: Albano Soares (Porto), Alberto Maia (Trofa), Carlos Mexedo (Porto), Carlos Tavares (Alemanha), Dilsa Dias (V.N.Gaia), Humberto Machado (Porto), Marcos Oliveira (Porto), Maria Isabel G. Silva (Cacém), Paulo Penicheiro (Leiria) e Rui Soldado (Évora).
_
Em Agosto próximo, as Festas de S. Lourenço de Bustos serão enriquecidas com um vasto programa de exposições, representações, conferências e o muito mais que a imaginação e o dever cívico impõem às nossas consciências de Cidadãos do Mundo e de Bustuenses com raízes.

sábado, 21 de março de 2009

Anda livre na rua e não conheças a tristeza

Poema das Águas
Entre tantos poemas
Este é feito de água apenas
Água benta
Para quando o diabo atormenta
Água potável
Para o corpo estar saudável
Água quente
Para um banho urgente
Água fria
Para começar bem o dia
Água de colónia
Para cheirar bem na cerimónia

Água do mar
Para lançar a rede e pescar
Água do rio
Para servir de caminho ao navio
Água salgada
Para aliviar os pés da longa caminhada
Água do Jordão
Para dar baptismo ao novo cristão
Água do Sena
Para inspirar este poema

Água canforada

Para que a dor seja ultrapassada
Aguarela
Para que o teu rosto fique pintado na tela
Gin com água tónica
Para uma viagem supersónica
Aguardente
Para bochechar quando dói o dente
Água mineral
Com bolachas de água e sal
Para quando o fígado andar mal
Água doce

Para matar a sede que o Verão trouxe

Água destilada
Para que a bateria não fique descarregada
Água oxigenada

para que a ferida fique sarada
Água inquinada
Que não serve mesmo para nada
Água da chuva
Que no Verão assenta como uma luva

Água pesada
Com uma força astronómica
Misturada com plutónio
Faz uma bomba infamemente atómica

Para nos queimar o último neurónio
Que nos reduz a nada
Pobre povo ancestral do Japão
Que ainda hoje não levanta os olhos do chão
Água do Tigre
Água do Eufrates
Onde se morre em estúpidos combates
E eu passeio-me triste e cabisbaixo
Vendo como o planeta vai por água abaixo...
_
Carlos Luzio\Pescador de Sonhos\"Poema das Águas", escrito a 26-5-2004\Livro editado pelos Amigos em 2005.
Soube tão bem ler-te este poema, ali onde sentes o odor dos cravos vermelhos!

Hoje é Dia de Santo Eugénio de Andrade

É o dia também
da nova poetisa de Bustos,
Marineide Santos
E é sempre dia do Carlos Luzio,
sempre
sempre
até sempre
*

Despertar

É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar
_
EUGÉNIO DE ANDRADE\Coração do Dia [1956-1958]

felinos

Ele há escolhas difíceis...
_
Custou-me 20€ e os olhos da cara, esta imagem.

quinta-feira, 19 de março de 2009

OS PAIS QUE PERDEMOS E A POESIA QUE NASCE

Perdi o Pai num Dia de Rei(s).
E um filho nos braços.
Só não perdi os meus filhos da guerra, porque os proibi de se irem de abalada sem ordens minhas: era proibido morrer.
Ironia: nenhum morreu (nunca mais esqueço: ó meu alferes, leve-me para a minha mãezinha, por amor de Deus!). E trazendo, levei, que o Ferreira era e é da terra do bom vinho.
Bem a propósito:
A minha conterrânea Marineide vai finalmente publicar o seu 1º livro de poemas. É já neste sábado - dia mundial da poesia, no Salão Nobre da Câmara de Oliveira do Bairro (e não na Biblioteca Municipal), pelas 10H00. Como é seu dever e propósito, o Notícias de Bustos vem lembrando o evento.
A Marineide perdeu o pai que tanto adorava, a maior razão de ser da sua vida.
O Mário ajudava-a estremosamente em tudo o que um filho carece quando as limitações físicas criam barreiras que parecem intransponíveis.
Há mortes que deviam ser proibidas por decreto divino. A do bom amigo Mário era uma delas.
Davam-me especial prazer os momentos de conversa, as mais das vezes à minha porta: tolerante ainda que empenhado política e religiosamente, o Mário era um cidadão duma postura, dignidade e abertura como pouco se vê.
Como admirava muito o meu Pai, hão-de estar juntos no sábado, a saborear lá de cima a concretização do sonho da Marineide.
Merecem ambos a melhor das tribunas, à mão esquerda de Deus como o meu Pai sempre quiz, que à direita os lugares têm outros donos.
Como escreveu o Carlitos Luzio, num dos muitos "bate-estradas" que me enviou de Moçambique, o que nos vale é ainda estarmos vivos
graças adeus.
E lúcidos.
_
Excerto dum dos poemas do livro da Marineide, Canto e Amanhece:
Espelhei nas palavras todo o meu Eu
Mesmo que as memórias me atormentassem
Viajei por Mundos cuja distância

Somente a Liberdade compreendeu
*
- NB (também pode ler-se noticiasdebustos), hora primeira do dia mundial da poesia:
Enquanto a malta anónima prefere ir desancando a torto e a direito nos comentários ao texto ali postado a 19 - Notas e desnotas duma reunião camarária, o altinod@poba persiste na causa mais do que nobre da POESIA/PÃO PARA A BOCA.
É Altino! E não é que somos uma espécie de combatentes da poesia!!
[e no teu Moçambique e do Carlitos, Altino, não se morria só de tédio, pois não?]
...
Já caminhei muita savana
Com uma espingarda na mão
Pesadas botas e a morrer de sede
Disparei contra ti com tanta gana
Metralha gasta em vão
Para acabar fuzilado contra a parede
Agora sou um guerrilheiro que já conheces
Desarmo minas com a ponta dos dedos...
Carlos Luzio, Pescador de Sonhos/Guerrilheiro, Ed. dos Amigos, Bustos 2005

hoje é o teu dia, pai



quarta-feira, 18 de março de 2009

adivinhem quem é uma flor?

_
1. Reprodução dum poema de Manuel Alegre, em O Canto e as Armas, Ed. Poesia Nosso Tempo, 1970, ano em que comprei o livro em Lisboa meio à sucapa, um ano depois da "operação flor" e da "operação balão", que fizeram as delícias da população de Coimbra.
Durante a crise académica de 1969 vieram de Lisboa colegas solidarizar-se com a nossa luta; defendiam formas de luta diferentes e violentas, em contraponto com a subtileza dos métodos da malta cá da província.
Exactamente em 1970 reencontrei-os em Lisboa; eram a cara chapada dos durões barrosos, saldanhas sanches, arnaldos de matos e outros radicais esquerdistóides que viriam a fazer furor 5/6 anos depois, a seguir ao 25 de Abril. Quem os viu e quem os vê...
2. Sobre 2 dos maiores líderes do movimento associativo de 1969, ver post de 20/9/2008 [a palavra e a mão] e ainda a interessante entrevista de Osvaldo de Castro ao jornal de parede do PS na Assembleia da República. Não levem a mal se vos mando para tais caminhos; um conselho amigo: ide fermosos e mui seguros.
3. Manuel Alegre terá ido beber o mote do poema ao também poeta Mao TseTung: "Deixem cem flores florir e cem escolas de pensamento lutar" [mao tse tung, Poemas, Editorial Futura, 1972].

apetece-me mais Shakespeare

Há mais coisas no céu e na terra, Horácio,
do que sonha a tua filosofia.
*
Hamlet,
de William Shakespeare, dramaturgo, poeta, autor e compositor inglês [1564-1616].
Ouvi dizer que os grandes autores de BD conhecem os clássicos como ninguém e aprenderam com eles a arte de fazer interagir imagens desenhadas e texto, tudo com um propósito: deleitar o público leitor com histórias (conteúdo) e métodos narrativos (forma) que às vezes são de sonho.
A 9ª Arte revela-se em cartoons, tiras diárias, revistas aos quadradinhos, novelas gráficas (graphic novels), ilustrações sequenciais (story boards), fanzines e, mais recentemente, webcomics ou on line comics.
A BD e o cinema andam muito ligados, disse-o em 28/9/2008 a propósito do fantástico O Mercenário.
Shakespeare foi tudo menos engomadinho, pézinho mole.

terça-feira, 17 de março de 2009

hoje apetece-me Shakespeare

Acabei de chegar a casa muito shakespeareano.
Apetece-me citá-lo, não pela célebre frase de Hamlet: to be or not to be, that's the question (ser ou não ser, eis a questão).
Como uma imagem vale por mil palavras, vou lembrá-lo, sim, por via dum bandido espertalhaço do faroeste americano de meados do séc. XIX (1).
Aqui vai:
E para que não restem dúvidas sobre o profundo conhecimento do universo shakespeareano por parte de Frank James, irmão do famoso Jesse James dos hold ups (2),
aqui o cito de novo:

_
(1) Referência bibliográfica: Lucky Lyke - Jesse James, desenhos de Morris (aliás Maurice de Bevere, aliás Morris) e texto de René Goscinny; Liv. Bertrand, s/ data;
(2) hold up: assalto à mão armada em que o bando de Jesse James se especializou com grande sucesso e fartos proveitos.

mulher de rua

Às vendedeiras de primaveras

Joana é uma mulher de rua
Uma prostituta como outra qualquer
Um carro que pára
Uma entrevista breve à janela
Um chulo à espreita duma vida que é sua
Joana, apesar de tudo é mãe, é mulher
Joana vende o corpo a uma tarifa muito cara
Mas Joana vive uma vida que não é a dela
Joana agoniza no seu quarto arrendado
E maldiz tudo o que a rodeia
Especialmente a sociedade podre onde habita
Joana não está livre de pecado
Joana é apenas uma abelha mais na colmeia
Que faz amor e não se excita.
_
- Carlos Luzio, Pescador de Sonhos/Joana; edição dos Amigos/2005.
- Imagem extraída de "Imaginário", texto e desenhos de Horacio Altuna, Ed. Meribérica, 1990.
- Em 70 conheci na cantina da Universidade de Lisboa uma estudante japonês que me disse que a tradução literal para português da palavra prostituta era vendedeira de primaveras.

domingo, 15 de março de 2009

a 1ª vez


Manuel Cajuda, treinador do V. Guimarães, depois da 1ª vitória em casa do Benfica (via diário IOL): 
Como em quase todas as coisas da vida, 
a primeira vez é muito saborosa. 
Alguma vez tinha de acontecer... 

Ó Manel, importas-te de explicar com um exemplo prático?
É que já foi há tanto tempo!

pescador de micróbios


O Milton foi um grande, 
mas grande 
Amigo do Carlos Luzio. 
Como ninguém, 
percebeu o significado das famosas tardes do Piri-Piri  
de que o Carlitos tanto falava.


Sobre este outro pescador...
relatei de madrugada no 
noticiasdebustos uma soberba

pescador de sonhos

Poema para esquecer:
*
Lembras-te daquelas palavras doces
que não cheguei a dizer-te nunca?
Lembras-te daquele dia triste
em que não te dei aquelas flores?
Lembras-te, por acaso, daquela praia
ou daquela areia dourada, banhada pelo sol,
onde nunca nos banhámos juntos?
Lembras-te daquelas conversas longas
sentados no banco de um jardim
onde nunca estivemos?
Lembras-te daquele beijo tão suave
que nunca cheguei a dar-te?
Ou daquele dia chuvoso
em que não corremos de mãos dadas,
naquela praia em que não existia
aquele mar verde, sonhado?
Lembras-te daquela casita amarela
com campos de relva que nunca foi semeada?
Chamava-se “yellow fin”,
lembras-te?
Lembras-te daquela cama
onde nunca nos deitámos juntos?
Não nos lembramos de nada
e o tempo passa…
Já nem as recordações do que nunca existiu ficam…
Prometemos esquecer-nos de tudo e de todos…
Lembras-te?
*
CARLOS LUZIO
Inhambane, Moçambique, 15/12/1972
Praia do Tofo


**
- Do you remember, título dum poema de O Pescador de Sonhos, livro de poemas do Carlos Luzio, em edição póstuma dos Amigos de sempre; o óleo da capa é do Joãozito dos Barrocos; a coordenação e análise, da Michele Mota.
- Ver post publicado em 6/10/2004 no saudoso blogue Bustos - do passado e do presente.
- A homenagem partiu do Notícias de Bustos, algures por aqui.
- O Carlitos confidenciou-me que compôs o poema na praia do Tofo. A "yelloy fin" era uma casa de praia existente no local e que pertencia ao pai da moça que ele namoriscou num intervalo da dura guerra na fronteira norte; mais me disse que ali foram colhidas imagens de exteriores da novela Jóia de África.

sábado, 14 de março de 2009

o raio 10 ou as ganas de os defenestrar

Antes de conhecer a náusea provocada pela diarreia legislativa, estagiei no terreno um pouco por todo o norte de Angola, incluindo Cabinda.
Como isto anda tudo ligado, estou convencido de que os altos comandos militares sofriam dos mesmos distúrbios que o legislador dos tempos que correm; ele há-de haver um ADN comum aos burocratas todos, ou então é vírus que se alapa a quem nos trata como marionetas.
Em princípios de Fev. de 73 foi-me atribuída uma operação especial numa zona de 2 grandes lagoas; fomos largados em 2 vagas de 3 helicópteros, como procura retratar a pequena foto entranhada na barra lateral (da alma?); no canto superior direito ainda se vê parte do heli-canhão que nos dava protecção.
Antes de partirmos, num briefing com um major vindo do comando operacional de Luanda, fartei-me de o avisar de que a zona de largada era então um imenso mar de água; mas o cão não tirava os olhos da carta militar onde delineara a operação a partir do conforto do seu gabinete no comando-chefe em Luanda. Era do que percebia e quem manda sabe.
Carregados e armados até aos dentes, andámos 4 dias e 3 noites entranhados na água e lama, no odor a podre; a malta do émpêlá, essa, puzera-se ao fresco, que aquilo era prós tolos do “puto”, aquela terra lá longe onde havia castelos em que não acreditavam. Mal pusemos os desgraçados pés no execrando buraco que servia de aquartelamento, chega célere a mensagem: “Peço transmita a pessoal dessa que executou Acção Raio 10 a apreciação deste Comando pelo espírito sacrifício demonstrado mesma”. Só a tiro, meu alferes, gritava o destroçado grupo de combate, só a tiro!!!
Nos tempos que correm as armas não fazem qualquer sentido, mas hão-de existir meios adequados a pôr em sentido esta ignóbil casta. Que tal entrar pelos gabinetes dos burocratas adentro e defenestrá-los um a um?
Será crime?
_
Vou-me prá beira do mar,
onde há robalos, pregados e

sexta-feira, 13 de março de 2009

abaixo o velhaco Iznogoud! chefe dos crentes refastela-se com lampreia!

Depois da incursão na Assembleia Municipal de ontem à noite...

...só mesmo um soberbo almoço de arroz de lampreia no Pompeu dos Frangos do Carlitos para esquecer um dia de cão.
_
Lampreia às sextas é a nova receita de sucesso do Pompeu, cujas raízes bustuenses são o nosso orgulho.
Bibliografia consultada: "As aventuras do Grão Vizir Iznogoud", II volume / "O conto de fadas d'Iznogoud", de René Goscinny e Jean Tabary; edição original da Dargaud Editeur, traduzida para português pela Meribérica - Editorial e Comercialização de Direitos, Lda. (Feira do Livro de Lisboa/13 de Junho de 1988).

quinta-feira, 12 de março de 2009

distribuição de funções

Por delegação de poderes, este jornal de parede do séc. XXI far-se-á representar logo à noite na Assembleia Municipal de Oliveira do Bairro pelo deputado municipal Oscar Santos, por sua vez no exercício de funções em regime de substituição do Pai Tomás
_
- Cfr. art.º 69º da Lei n.º 169/99, de 18/9.
- Imagem extraída de "A verdadeira história de Leo Roa", de Juan Gimenez, Meribérica Liber (comprado em Lisboa em 7/3/1991).

quarta-feira, 11 de março de 2009

reuniões municipais: leve 2 e pague 1

Amanhã acontecem duas importantes reuniões de dois orgãos distintos do Poder Local cá do burgo: às 14H30, a Câmara Municipal de Oliveira do Bairro reune na terra mais linda e melhor do mundo, que é a minha e se chama Bustos; às 19H30 é a Assembleia Municipal que se junta no salão nobre dos Paços do Concelho.
Mal dá para respirar, quanto mais para analisar e/ou preparar a sério os assuntos em discussão.
Ele há coincidências do caraças e com uma agravante: os poucos cães que não conhecem dono [os que eu conheço] mal têm tempo para alçar a perna e fazer o seu xixi em dois (2) sítios diferentes da mesma rua, que por acaso se chama EM 596.
O chão de Bustos será a razão de ciência da 1ª reunião; o "Freeport de Oliveira do Bairro" o pretexto da 2ª. Tudo no mesmo dia, duma assentada.
Diz o bom povo que à dúzia é mais barato. Será? Ou será que o barato sai caro? E quem corre por gosto, cansa-se ou não?
Num comentário de há pouco no Notícias de Bustos disse que os eleitos locais não nasceram para andar a passear pelos corredores do poder local nem para guerrinhas de faca e alguidar, espírito de vingança ou para extravasar ódios pessoais.
Foram eleitos para trabalhar, ou seja,  para fazer trabalho de casa em nome do cidadão votante.
Já agora: não ficaria mal a uns quantos ler com atenção o Regimento da Assembleia Municipal, disponível no site da Câmara em "autarquia\assembleia municipal\regimento".
_
Sobre o tema, posts de 27 (Fintabolistas II) e de 28/2 (Fintabolistas III), ambos neste jornalzinho de parede. Pode ser lido mais do mesmo no NB, aqui 

domingo, 8 de março de 2009

quem tem magalhães tem tudo

No editorial da revista Exame Informática deste mês o seu director fala da eficácia do projecto e-escolas, apontando números que comprovam o excelente resultado da aposta deste governo nos computadores portáteis:
Em 2008 a mercado nacional de portáteis cresceu 58,8%, o que constituiu a maior subida na Europa Ocidental, cuja média foi de 16,8%. Imaginem: em 2008 os portugueses compraram 1,33 milhões de portáteis, mais 85,6% do que no ano anterior.
São três as explicações que Pedro Miguel Oliveira encontra para este salto de gigante: o projecto e-escolas - que permitiu distribuir mais de 350.000 portáteis -, a vulgarização dos netbooks e a baixa verificada no preço dos portáteis, esta como reflexo das regras da concorrência ditadas pela aposta do governo e pelo receio da massificação dos netbooks, esses pequenos portáteis de torna-viagem.
São números que não deixam margem para dúvidas. No entanto, a oposição perde o seu precioso tempo a desancar no magalhães, ora porque ainda não chegou a todo o lado, ora porque tem erros ortográficos e vá de chamar a ministra ao parlamento para uma sessão de reguadas.
Entretanto e no seguimento do espírito de tolerância demonstrado perante as diatribes do Manuel Alegre, o meu padrinho abriu outra excepção para as críticas: tenho carta branca para desancar no magalhães, desde que jure a pés juntos que irei alinhar na campanha alegre que se aproxima.
Prefiro jurar que nunca mais digo mal do magalhães...

sábado, 7 de março de 2009

andam guerrilheiros no buçaco

O Bairrada Digital noticiou que a mata do Buçaco viu aprovados os estatutos duma fundação destinada à preservação daquele espaço idílico, o que se aplaude.
Datando de princípios do séc. XVII, a extensa mata possui espécies vegetais do mundo inteiro, incluindo o famoso cedro do Buçaco.
Durante as invasões francesas em 1810 as tropas aliadas (mais inglesas que portuguesas) derrotaram o general Massena na conhecida batalha do Buçaco.
Contava a minha avó que os franceses andaram perto de Bustos a saquear gado, cereais e vinho aos pobres camponeses da bairrada e que a artilharia napoleónica bombardeou à distância a altaneira torre da igreja da Mamarrosa. Armados de foices e varapaus, os camponeses usavam técnicas de guerrilha, assaltando e matando os soldados retardatários que se dedicavam à rapinagem.
Se tivesse de ser guerrilheiro acoitava-me com os meus bravos na mata do Buçaco.
A fazer fé na conversa dos políticos, que só falam em ditadura e terrorismo de estado, o dia não deve estar longe; o pior é que o camuflado que guardo no sotão já não me deve servir.
Para ter a certeza, vou lá num pulinho e já volto...
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Gravura da batalha do Buçaco existente no Arquivo Histórico Militar/Lisboa, da autoria do major escocês Thomas Saint-Clair, que participou na batalha como comandante das companhias de granadeiros portugueses.