quinta-feira, 19 de março de 2009

OS PAIS QUE PERDEMOS E A POESIA QUE NASCE

Perdi o Pai num Dia de Rei(s).
E um filho nos braços.
Só não perdi os meus filhos da guerra, porque os proibi de se irem de abalada sem ordens minhas: era proibido morrer.
Ironia: nenhum morreu (nunca mais esqueço: ó meu alferes, leve-me para a minha mãezinha, por amor de Deus!). E trazendo, levei, que o Ferreira era e é da terra do bom vinho.
Bem a propósito:
A minha conterrânea Marineide vai finalmente publicar o seu 1º livro de poemas. É já neste sábado - dia mundial da poesia, no Salão Nobre da Câmara de Oliveira do Bairro (e não na Biblioteca Municipal), pelas 10H00. Como é seu dever e propósito, o Notícias de Bustos vem lembrando o evento.
A Marineide perdeu o pai que tanto adorava, a maior razão de ser da sua vida.
O Mário ajudava-a estremosamente em tudo o que um filho carece quando as limitações físicas criam barreiras que parecem intransponíveis.
Há mortes que deviam ser proibidas por decreto divino. A do bom amigo Mário era uma delas.
Davam-me especial prazer os momentos de conversa, as mais das vezes à minha porta: tolerante ainda que empenhado política e religiosamente, o Mário era um cidadão duma postura, dignidade e abertura como pouco se vê.
Como admirava muito o meu Pai, hão-de estar juntos no sábado, a saborear lá de cima a concretização do sonho da Marineide.
Merecem ambos a melhor das tribunas, à mão esquerda de Deus como o meu Pai sempre quiz, que à direita os lugares têm outros donos.
Como escreveu o Carlitos Luzio, num dos muitos "bate-estradas" que me enviou de Moçambique, o que nos vale é ainda estarmos vivos
graças adeus.
E lúcidos.
_
Excerto dum dos poemas do livro da Marineide, Canto e Amanhece:
Espelhei nas palavras todo o meu Eu
Mesmo que as memórias me atormentassem
Viajei por Mundos cuja distância

Somente a Liberdade compreendeu
*
- NB (também pode ler-se noticiasdebustos), hora primeira do dia mundial da poesia:
Enquanto a malta anónima prefere ir desancando a torto e a direito nos comentários ao texto ali postado a 19 - Notas e desnotas duma reunião camarária, o altinod@poba persiste na causa mais do que nobre da POESIA/PÃO PARA A BOCA.
É Altino! E não é que somos uma espécie de combatentes da poesia!!
[e no teu Moçambique e do Carlitos, Altino, não se morria só de tédio, pois não?]
...
Já caminhei muita savana
Com uma espingarda na mão
Pesadas botas e a morrer de sede
Disparei contra ti com tanta gana
Metralha gasta em vão
Para acabar fuzilado contra a parede
Agora sou um guerrilheiro que já conheces
Desarmo minas com a ponta dos dedos...
Carlos Luzio, Pescador de Sonhos/Guerrilheiro, Ed. dos Amigos, Bustos 2005

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