segunda-feira, 16 de junho de 2014

O QUE ME VALE


O que me vale aos fins de semana
é o teu amor provinciano e bom
para ele compro bombons
para ele compro bananas
para o teu amor teu amon 
tu tankamon meu amor
para o teu amor tu te flamas
tu te frutti tu te inflamas
oh o teu amor não tem com 
plicações viva aragon
morram as repartições
*
- Manuel António Pina / Poesia Reunida / As Pessoas e Outros Poemas de Clóvis da Silva / pág. 46 / Ed. da Assírio & Alvim.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Quando os netos ainda nos pertencem - I

Nem de propósito: ontem recebi um convite fantástico, ademais na auspiciosa e invicta cidade do Porto, onde tinha estado na véspera a viver outra não menos auspiciosa noite:
Fui convidado pela filhota Ana Luísa que já não me pertence, para assistir à consagração do meu neto mais velho, Romeu Lourenço, que ainda me pertence, mas que por este andar vai voar cedo com as aves.
Nem mais: o Romeu foi laureado com o 1º Prémio, Categoria C (menores de 13 anos), de viola clássica, no 16º Concurso Internacional Santa Cecília.
[O Romeu Velez de Rodrigues Aires Lourenço é o 1º da lista da direita]


Embora mantendo aquele low profile com que disfarço as emoções fortes - e cuja técnica aprendi num sítio que agora não digo, mas nunca se esquece até morrer longe da praia - foi cheio de orgulho que assisti durante a tarde de ontem ao Concerto dos Laureados, cujo evento teve lugar na Fundação Eng.º António de Almeida.

Não se apressem a pensar que o prémio foi obra do acaso. É o 5º concurso a que o meu neto se apresenta e, em todos, conquistou o 1º lugar do escalão, o que até aconteceu no concurso do Fundão, supostamente o de mais nomeada. E já pensa em concorrer no estrangeiro.
Está na cara: o meu neto mais velho é um excelente músico, um grande artista!
Sai ao avô materno, também ele um músico e verdadeiro artista.

Já o irmão Vicente, o Vi, pode gostar muito deste avô, mas a veia que deixa transparecer não bebeu das berças do meu ADN.
Vejam só:
Num ápice, assim como quem não quer a coisa, impingiu-me duas pulseirecas feitas de pequenas anilhas de plástico, pela módica quantia de 20€. A custo, lá me deu + uma de bónus.
E fez o mesmo ao avô Lourenço, matando logo dois coelhos com a mesma cajadada. Tudo sem descontos prá família, vendendo ao mesmo preço que pratica nos cafés ali ao redor.
Que despudor!
Ainda chega a ministro da economia, este simpático mas mercantilista neto.
O que também me deixará muito feliz.
Desde que não seja dum governo como este! 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A excepção à regra

Pela madrugada, após uma noite bem dormida, acordei na paz do Senhor.
Eis senão quando, 
(caso nunca visto!)
sem que tivesse de sair da amostra que mantenho no quarto
da minha modesta livraria, 
ali mesmo, bem à mão de semear, 
descubro esta pérola da poesia portuguesa!


Respigo, muito à pressa, este

Agora é

Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro

Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor

Já não arranjamos vagar
para o amor   agora
isto vai devagar
isto agora demora

______
- Caso excepcionalmente raro [daí a excepção do título], o livro não está datado. Quase de certeza, foi-me oferecido por meu irmão ou cunhada num qualquer dia de anos ou de Natal.

Já sei que destino lhe vou dar.

Quando os filhos nos pertenciam - III

Claro que o meu filhote (da 3ª cama, a bem dizer) também tinha destas coisas de miúdo...

Como diria o meu Eugénio de Andrade [Os amantes sem dinheiro, 1947/49: Poema à mãe]:

"No mais fundo de ti,
Eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O retrato adormecido
No fundo dos teus olhos.
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
  Era uma vez uma princesa 
  no meio de um laranjal!...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu sai da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves."


____
- O Eugénio de Andrade faz parte dos bibelots da minha mesinha de cabeceira desde que comprei, na Feira do Livro em Aveiro, a sua coletânea de Poesia e Prosa [1940 – 1980], Edição Limiar.
Foi no dia 27/5/84 e era Dia da Mãe. Lembram-se?

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Quando os filhos nos pertenciam - II

Com muitos beijinhos da tua Né...[em 19/3/1991]
...

Entretanto,
Em 16/12/1990,
o pai Óscar dedicava-se
à pesca de barco, 
aos cabeçudos 
[robalos de 3/4 ou mais kilos], 
na boca da barra...

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Quando os filhos nos pertenciam

Antes de vir para este paraíso em Unhais da Serra (H2Otel), revolvi milhares de papéis à procura não sei bem de quê.

Encontrei preciosidades como esta, que espero conseguir publicar, agora que o portátil parece estar a encarreirar

Grande imaginação, esta a da filhota mais nova, a Né, então com 11 anos iniciados há pouco.

Claro que o filhote ainda não estava nos planos de pormenor.

Só um pai empedernido resistiria à mensagem, a qual, parecendo muito linear, entra no domínio do subliminar: a filhota quis ali dizer muito mais do que aquilo que disse.

Por falar em filhos, ide até AQUI, se faz favor, enquanto queimo os últimos cartuchos, neste paraíso onde parece que ainda há druídas celtas.
Pena minha: feiticeiras que curam males é que não vi nenhuma.
Também não admira.

Fica para a próxima.