terça-feira, 13 de maio de 2014

O trombone

Vocês já não se lembram do meu encontro com o Necas Caldeira.
Nunca me esqueço: foi numa 2ª feira, 7 de setembro, corria o ano de 2009, como podem conferir AQUI.
Pois não é que ontem voltámos a encontrar-nos? 
- Não para celebrar as 4 viagens dele ao mar dos bacalhaus, para fugir à guerra a que acabou por não resistir, tal foi o cansaço da faina.


- Muito menos para recordar a puta da guerra onde nos cruzámos, algures no norte de Angola, ia eu com os meus bravos ao assalto dum santuário da FNLA na serra da Mucaba, donde regressei de mãos vazias mas com os tomates no sítio.

- O objetivo era outro: tinha que ver com a campanha para as Europeias e o lufa-lufa dos suspeitos do costume.

Para quem não é do Sobreiro ou tem a memória curta, passadas as primeiras desilusões do pós 25 de Abril, o Necas, desiludido com as trapaceirices dos políticos do arco do poder, virou apoiante do Acácio Barreiros, em vias de ser eleito deputado da UDP na Assembleia da República, donde passou a disparar a torto e a direito "contra os ricos e fascistas". 

Está na cara que o meu fito era sondar o Necas, saber o que lhe vai na alma, se ainda tem ganas de voltar a pegar em armas, ou seja e em linguagem  de magarefe (retórica, pois claro), sacar do facalhão e partir para a matança dos porcos.

- É Necas! Ainda te alembras de colares um grande cartaz da UDP na parede nascente da tua casa? Coragem, foi preciso ter coragem, pá! - arrimei-lhe eu, para lhe tirar nabos da púcara.
Resposta pronta:
- Vai-te mas é coçar, ó cão sem dono!
-Tomaras tu que o Acácio que eu conheci ainda pertencesse ao mundo dos vivos!
- Não o Acácio que saltou prós braços do poder, mas o outro, que não calava a voz!

- Ouve lá, retorqui-lhe eu: o Acácio foi mas é um grande músico!
- Pois foi, pois foi! E o que faz falta não é um músico como o teu colega Marinho Pinto, que ponha a boca no trombone e varra esta merda toda? - saiu-se o Necas, enquanto fazia o gesto de quem pega no letal instrumento e o aponta ao inimigo.


- Sorri para mim, exultante pela emboscada perfeita: tinha acabado de apanhar o Necas em plena zona de morte. 
Sem hesitar um segundo, atirei-lhe a matar, bala direitinha ao coração:
- Não me digas que também vais votar nesse franco atirador?

Palavras para quê:
- Corremos para os braços um do outro, de lágrima ao canto do olho, como velhos companheiros que se reencontram no 40º jantar de confraternização de antigos combatentes!

A guerra é assim: faz de nós camaradas de armas para uma vida inteira, malgré tout.