Como vem sendo dos usos, os Guardiões
dos Sabores voltaram a reunir em Assembleia Geral, cuja ordem de trabalhos foi a degustação dos sabores dos nossos avós e aproveitar para fazer o ponto da
situação da gastronomia que defendemos e cultivamos, tudo enquanto íamos degustando ou alambazando-nos à grande e à portuguesa com a cozinha tradicional.
Desta vez, o local do creme foi a acolhedora moradia
da Zélia Canão/Carlos Leite, ali na Picada de Bustos. Presentes os
guardiãos/guardiões: Fernando
Silva, Joãozito Oliveira, Manuel Nunes, Carlos Leite, Adélio Reis, Milton
Costa, Manuel Agostinho (secretário e redator das atas e futuro 1º ministro do
reino dos sabores) e este vosso humilde escriba, Óscar Santos.
Faltaram, por motivos alheios à sua vontade -
como usam dizer os políticos quando fazem borrada e saem de cena - os
guardiãos António Romão, Rui Barata e João Libório.
Como vem sendo hábito naquele poiso, fomos recebidos principescamente.
Como vem sendo hábito naquele poiso, fomos recebidos principescamente.
A Zélia e o Carlos levam o esmero ao extremo, com
recurso a uma equipa de verdadeiros gourmets: o cunhado do Carlos, Fernando
Pinto e a sua consorte e irmã do Carlos, Conceição Leite, vindos expressamente
de Oliveira de Azeméis, tal como de lá veio a deliciosa vitela, sacrificada no forno a
lenha existente no bonito anexo dedicado aos bons comeres e beberes em grupo.
A Alexandra, que vive em Bustos, veio dar uma mãozinha, porque nunca somos demais para continuar o Portugal gastronómico.Tudo sob a batuta e interação da Zélia.
A Alexandra, que vive em Bustos, veio dar uma mãozinha, porque nunca somos demais para continuar o Portugal gastronómico.Tudo sob a batuta e interação da Zélia.
A Conceição (ao centro, na foto) é uma exímia cozinheira. As suas batatas
salteadas, enriquecidas com alho, orégãos e o azeite dos usos, bem como os
pipis estufados, caíram no céu daquelas bocas já de si esmeradas e exigentes. Até
um bom queijo da serra a desfazer-se no palato ajudou ao preâmbulo do festim.
O mulherio, com a ajuda e permanente atenção do Fernando Pinto, submeteu ao
lento crivo do forno a lenha 3 travessas de barro (houve uma 4ª, que não identifiquei), com a compositura que passo a
factualizar:
- Uma, de robalo médio (300/400gr, diz o escriba, que já foi rei na matéria), recheado com pimentos vermelhos e verdes [a variedade é essencial, confidenciou-me a Conceição do alto do seu saber], a que acresceu bacon, orégãos e, desconfio, outros ingredientes que ficaram no segredo da deusa.
Para evitar o derrame do recheio, os robalos foram esventrados pelo dorso lateral, após o que foram fechados com palitos, tudo para evitar escorrências.
Na travessa de barro, os famosos e injustiçados robalos
assentaram numa “cama” de vinho branco, azeite, cebola, tomate e salsa, cama
essa que não se quer muito gorda, frisou a mestra.
Uma delícia! - rejubilaram os confrades, enquanto iam
falando mal da política e bem das mulheres.
- As outras duas, deram guarida à tenra vitela trazida
de Vale de Cambra, dos pastos dos lavradores locais que lá vão resistindo à
crise, bom grado os esforços da ministra Cristas, agora em fim de ciclo.
Chegados aqui, avancemos para o esmerado tempero com
que o jovem bovino foi regado.
Tudo vos relatarei até ao ínfimo pormenor, ó crentes e
incréus, salvo aqueles segredinhos que os experts e chefs não gostam de revelar, seja
aos crentes, seja aos ateus, agnósticos, ou mesmo aos da opus dei ou da maçonaria, seja qual for a loja em que aventalam:
Ele é alho, cebola, louro, sal, pimenta, uma
malagueta de piri-piri, vinho branco e até um poucochinho de água, não vá a carne
morrer à sede.
Outra delícia! - voltaram a rejubilar os confrades,
enquanto se iam repetindo a falar mal da política e bem das mulheres.
Não registei o pedigree dos excelentes tintos e
espumantes, que o tempo não deu para tudo, pois tive de me dividir entre a heurística
da cozinha e a hermenêutica da farta mesa. E ainda tive de fazer de fotógrafo de
serviço.
Mas dei nota das sobremesas, ainda que não sejam o meu forte:
Pudim caseiro (nada de fudim plan), pão-de-ló de Ovar, bolo de chocolate com café e ainda natas do céu regadas com
ovos moles. Tudo matéria prima confecionada pelas mãos de fada da nossa Senhora da Conceição.
Mas que delícia! – rejubilaram de novo os confrades, enquanto insistiam em falar mal da política e bem das mulheres.
Mas que delícia! – rejubilaram de novo os confrades, enquanto insistiam em falar mal da política e bem das mulheres.
Para fechar o repasto, só faltou a Ana Sofia, filha da casa, brindar os convivas com uns acordes de flauta transversal em que é exímia, ela que integra a Banda da Mamarrosa. Fica para a próxima, se e quando a timidez se for embora.
Entretanto e como é da praxe, o secretário Agostinho
lavrou a acta, que divulgarei na página do facebook dos GS, pois, ao contrário dos
políticos e outros beneficiários da manjedoura, a malta não tem nada a esconder
aos portugueses.
Como mandam os códigos, depois de lida e achada conforme, foi a acta assinada por todos.
Como mandam os códigos, depois de lida e achada conforme, foi a acta assinada por todos.
São encontros destes que nos fazem esquecer que o país está de tanga para tantos e generoso demais para uns poucos.
Bem vistas as coisas, trata-se de contribuir para a recuperação, preservação
e divulgação da cozinha tradicional portuguesa.
O governo - este e o que vem aí - podem cair. Os Guardiãos dos Sabores manter-se-ão de pedra e cal, que é como quem diz, de carne e peixe!
O governo - este e o que vem aí - podem cair. Os Guardiãos dos Sabores manter-se-ão de pedra e cal, que é como quem diz, de carne e peixe!
Óscar Santos